quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A flor da meia noite

    Essa One-shot é referente ao capítulo 17 de cidade dos ossos, onde Jace e Clary estão na estufa comemorando o aniversário da menina. No meu ponto de vista foram períodos de felicidade muito poucos em relação aos milhares de capítulos de insegurança e tristeza. Então, eu "refiz" o capítulo de Cassandra Clare. Esse refiz está entre aspas porque não escrevi tudo, boa parte da one-shot é do livro original. Para não confundir ninguém, as partes que escrevi estarão na cor azul. Espero que gostem ;) Nos vemos em breve.

ps: Essa foi a primeira one-shot que escrevi, por favor, me deem um desconto.


 

À meia-luz, as enormes salas vazias que atravessaram a caminho do telhado pareciam tão
desertas quanto palcos vazios, os móveis cobertos de branco erguendo-se à luz como icebergs
através da fumaça.
Quando Jace abriu a porta da estufa, o cheiro atingiu Clary, suave como o toque da patinha
de um gato: algo escuro e carregado de terra, e o cheiro mais forte de flores noturnas brotando
— daturas, trombeteiros, maravilhas — e algumas que ela não reconhecia, como uma planta
que trazia um botão amarelo em forma de estrela cujas pétalas eram cheias de pólen dourado.
Através das paredes de vidro do recinto, ela podia ver as luzes de Manhattan queimando como
joias.
— Uau. — Ela virou lentamente, absorvendo aquilo tudo. — É muito lindo à noite!
Jace sorriu.
— E temos o lugar só para nós. Alec e Isabelle detestam vir aqui. Eles são alérgicos.
Clary tremeu, embora não estivesse com frio.
— Que espécie de flor é esta?
Jace deu de ombros e sentou, cuidadosamente, ao lado de um arbusto verde lustroso cheio
de botões de flores.
— Não faço ideia. Você acha que eu presto atenção à aula de botânica? Não vou ser
arquivista. Não preciso saber nada disso.
— Você só precisa saber como matar coisas?
Ele olhou para ela e sorriu. Ele parecia um anjo louro de um quadro de Rembrandt, exceto
por aquela boca diabólica.
— Isso mesmo. — Ele pegou um pacote embrulhado em um guardanapo do saco de papel e
ofereceu a ela. — Além disso — ele acrescentou —, faço um sanduíche de queijo delicioso.
Prove um.
Clary sorriu com certa relutância e sentou-se na frente dele. O chão de pedra da estufa
estava frio contra suas pernas nuas, mas era agradável, depois de ter passado por tanto calor.
Do saco de papel, Jace tirou algumas maçãs, uma barra de chocolate com frutas e amêndoa, e
uma garrafa de água.
— Até que não foi um saque qualquer — ele disse, admirando o próprio piquenique.
O sanduíche de queijo estava morno e um pouco mole, mas o gosto era bom. De um dos
incontáveis bolsos da jaqueta, Jace pegou uma faca com cabo de osso que parecia capaz de
cortar um urso pardo. Ele começou a partir as maçãs em oito pedaços.
— Bem, não é um bolo de aniversário — ele disse, dando um pedaço a ela —, mas espero
que seja melhor do que nada.
— “Nada” era exatamente o que eu estava esperando, então, obrigada. — Ela mordeu um
pedaço. A maçã tinha gosto verde e fresco.
— Ninguém deveria ficar sem nada no aniversário. — Ele estava descascando a segunda
maçã, a casca saía em tiras curvilíneas. — Aniversários têm que ser especiais. Meu
aniversário sempre era o dia que meu pai dizia que eu podia fazer o que eu quisesse.
— Qualquer coisa? — ela riu. — E que tipo de coisa você queria fazer?
— Bem, quando fiz 5 anos, quis tomar banho com espaguete.
— Mas ele não deixou, certo?
— Não, aí é que está. Ele deixou. Disse que não era caro, e por que não, se era o que eu
queria? Ele mandou os empregados encherem uma banheira com água fervendo e macarrão, e
quando esfriou... — Ele deu de ombros. — Eu tomei banho.
Empregados?, pensou Clary. Em voz alta, ela disse:
— Como foi?
— Escorregadio.
— Aposto que sim. — Ela tentou imaginá-lo como um garotinho, gargalhando, com
macarrão até os ouvidos. A imagem não se formava. Certamente ele nunca gargalhara, nem aos
5 anos. — O que mais você pedia?
— Armas, na maioria das vezes — ele disse —, tenho certeza de que isso não a
surpreende. Livros. Eu lia muito, sozinho.
— Você não ia para a escola?
— Não — ele disse, e agora falava lentamente, quase como se estivessem se aproximando
de um tópico que ele não quisesse discutir.
— Mas os seus amigos...
— Eu não tinha amigos — ele disse. — Só o meu pai. Ele era tudo que eu precisava.
Ela olhou fixamente para ele.
— Nenhum amigo?
Ele encontrou o olhar dela.
— Na primeira vez em que encontrei o Alec — ele disse —, quando tinha 10 anos, foi a
primeira vez que encontrei outra criança da minha idade. A primeira vez que tive um amigo.
Ela abaixou o olhar. Agora uma imagem estava se formando, nem um pouco bem-vinda, na
cabeça dela: ela pensou em Alec, no jeito que ele olhara para ela. Ele não diria isso.
— Não sinta pena de mim — disse Jace, como se estivesse adivinhando os pensamentos
dela, embora não fosse dele que ela estava sentindo pena. — Ele me deu a melhor educação, o
melhor treinamento. Ele me levou por todo o mundo. Londres. São Petersburgo. Egito.
Adorávamos viajar. — Os olhos dele estavam sombrios. — Não fui a lugar algum desde que
ele morreu. Nenhum lugar além de Nova York.
— Você tem sorte — disse Clary. — Nunca saí deste estado na vida. Minha mãe não me
deixava nem ir a passeios da escola em Washington. Acho que agora sei por quê — ela
acrescentou.
— Ela tinha medo de que você pirasse? Começasse a ver demônios na Casa Branca?
Ela mordeu um pedaço do chocolate.
— Tem demônios na Casa Branca?
— Eu estava brincando — disse Jace. — Eu acho. — Ele deu de ombros filosoficamente.
— Com certeza alguém teria dito alguma coisa.
— Acho que só não queria que eu ficasse muito longe dela. Minha mãe, quero dizer.
Depois que o meu pai morreu, ela mudou muito. — A voz de Luke ecoou em sua mente. Você
nunca mais foi a mesma desde que aconteceu. Mas Clary não é Jonathan.
Jace ergueu a sobrancelha para ela.
— Você se lembra do seu pai?
Ela balançou a cabeça.
— Não. Ele morreu antes de eu nascer.
— Sorte sua — ele disse. — Assim você não sente falta dele.
Se fosse qualquer outra pessoa, teria sido horrível dizer isso, mas pela primeira vez não
havia qualquer amargura em seu tom de voz, só a dor da solidão pela ausência do próprio pai.
— Alguma hora desaparece? — ela perguntou. — A falta dele, quero dizer.
Ele olhou para ela de forma oblíqua, mas não respondeu.
— Você está com saudades da sua mãe?
Não. Ela não ia pensar na mãe desse jeito.
— Do Luke, para falar a verdade.
— Não que esse seja o nome dele. — Ele mordeu a maçã pensativamente e disse: —
Tenho pensado nele. Alguma coisa a respeito de seu comportamento não faz sentido.
— Ele é um covarde. — A voz de Clary era amarga. — Você o ouviu. Não vai se
posicionar contra Valentim. Nem pela minha mãe.
— Mas é exatamente isso... — Uma longa reverberação metálica o interrompeu. Em algum
lugar, um sino soava. — Meia-noite — disse Jace, repousando a faca. Ele se levantou,
esticando a mão para puxar Clary para o lado dele. Seus dedos estavam levemente grudentos
com o sumo de maçã. — Agora observe.
O olhar dele estava fixo no arbusto verde ao lado do qual eles estavam sentados, com duas
dúzias de botões fechados. Ela começou a perguntar para onde deveria olhar, mas ele levantou a mão para contê-la. Os olhos dele estavam brilhando.
— Espere — ele disse.
As folhas no arbusto continuavam imóveis. De repente, um dos botões começou a tremer.
Inchou, atingindo o dobro do tamanho original e abriu. Era como assistir a um filme de uma
flor brotando em alta velocidade: as folhas verdes abrindo para fora, libertando as pétalas
internas. Estavam cheias de pólen dourado tão leve quanto talco.
— Oh! — Clary exclamou e olhou para cima, então viu Jace observando-a. — Elas brotam
toda noite?
— Só à meia-noite — ele disse. — Feliz aniversário, Clarissa Fray.
Ela estava estranhamente comovida com aquilo.
— Obrigada.
— Tenho uma coisa para você — disse. Ele colocou a mão no bolso e retirou algo, que
apertou contra a mão dela. Era uma pedra cinza, levemente irregular, gasta em alguns pontos.
— Hum — disse Clary, virando a pedra nos dedos. — Uma pedra? Um rubi ou uma
esmeralda?
— Muito interessante, minha amiguinha sarcástica. E não é uma pedra, exatamente. Todos
os Caçadores de Sombras têm uma pedra com símbolos enfeitiçados.
— Ah. — Ela olhou para a pedra com interesse renovado, fechando os dedos ao redor
dela, como tinha visto Jace fazer na adega. Ela não tinha certeza, mas achou ter visto um flash de luz emitido através dos próprios dedos.
— Vai te trazer luz — disse Jace —, mesmo nas sombras mais escuras deste mundo e de
outros.
Ela guardou a pedra no bolso.
— Bem, obrigada. Foi gentil em me dar alguma coisa. — A tensão entre eles pareceu
pressioná-la como ar úmido. — Muito melhor do que um banho de espaguete.
Ele falou sombriamente:
— Se você dividir essa informação com alguém, posso ser obrigado a matá-la.
— Bem, quando eu tinha 5 anos, queria que minha mãe me deixasse entrar na secadora
para ficar dando voltas com as roupas — disse Clary. — A diferença é que ela disse não.
— Talvez porque entrar em uma secadora ligada pode ser fatal — destacou Jace —, ao
passo que banho de macarrão raramente acaba em morte. A não ser que o macarrão tenha sido feito pela Isabelle.
A flor da meia-noite já estava perdendo as pétalas. Elas caíam ao chão, brilhando como
pedacinhos de estrelas.
— Quando eu tinha 12 anos, queria uma tatuagem — disse Clary. — Minha mãe também
não deixou.
Jace não riu.
— A maioria dos Caçadores de Sombras recebe as primeiras Marcas aos 12 anos. Devia
estar no seu sangue.
— Talvez. Mas duvido que a maioria dos Caçadores de Sombras faça uma tatuagem do
Donatello das Tartarugas Ninja no ombro esquerdo.
Jace parecia abismado.
— Você queria uma tartaruga no ombro?
— Queria cobrir uma cicatriz de catapora. — Ela puxou a manga gentilmente, mostrando a
marca branca em forma de estrela. — Viu?
Ele desviou o olhar.
— Está ficando tarde — ele disse. — É melhor descermos.
Clary puxou a alça de volta, embaraçada. Como se ele fosse querer ver aquelas cicatrizes
estúpidas!
As palavras seguintes saíram da boca de Clary de forma natural:
— Você e Isabelle já... namoraram?
Agora ele olhava para ela. A luz do luar realçava os olhos dele. Agora eram mais
prateados do que dourados.
— Isabelle? — retrucou, de forma evasiva.
— Eu pensei... — Agora ela estava se sentindo ainda mais embaraçada. — Simon estava
se perguntando.
— Talvez ele devesse perguntar a ela.
— Não sei se ele quer — disse Clary. — De qualquer forma, deixe pra lá. Não tenho nada
a ver com isso.
Ele sorriu.
— A resposta é não. Quero dizer, pode ser que já tenha havido alguma época em que um
ou outro tenha considerado essa possibilidade, mas ela é quase uma irmã para mim. Seria
esquisito.
— Quer dizer que você e Isabelle nunca...
— Nunca — disse Jace.
— Ela me odeia — observou Clary.
— Não, ela não te odeia — ele disse, para a surpresa dela. — Você só a deixa nervosa,
porque ela sempre foi a única menina no meio de meninos que a adoravam, e agora não é
mais.
— Mas ela é tão linda!
— Você também — disse Jace. — E muito diferente dela, e ela não pôde deixar de notar
isso. Ela sempre quis ser pequena e delicada. Detesta ser mais alta do que a maioria dos
meninos.
Clary não respondeu nada, porque não tinha nada a dizer. Linda. Ele a tinha chamado de
linda. Ninguém nunca dissera isso a respeito dela na vida, exceto Jocelyn, o que não contava.
Mães têm a obrigação de achar os filhos lindos. Ela olhou fixamente para ele.
— Acho que deveríamos descer — ele disse outra vez. Ela sabia que o estava deixando
desconfortável, olhando para ele daquele jeito, mas não conseguia parar.
— Tudo bem — disse ela, afinal. Para seu alívio, a voz soou normal. Foi um alívio ainda
maior parar de olhar para ele ao se virar de costas. A lua, exatamente acima deles agora,
iluminava tudo com um brilho quase diurno. Entre um passo e outro, ela viu um brilho branco
sendo emitido de alguma coisa no chão: era a faca que Jace havia utilizado para cortar as
maçãs, repousada sobre a lateral. Ela foi subitamente para trás para não pisar, e seu ombro
bateu no dele, ele pôs a mão para ajudá-la a se equilibrar, bem na hora em que ela se virou
para se desculpar. Em seguida, de algum jeito, ela estava nos braços dele, e ele a estava
beijando.
Inicialmente, foi quase como se ele não quisesse beijá-la: a boca dele estava dura,
inflexível; depois ele colocou os dois braços em volta dela, e a puxou para perto. Os lábios
suavizaram. Ela podia sentir os batimentos rápidos do coração dele, o gosto doce da maçã
ainda na boca. Ela pôs as mãos nos cabelos dele, como quisera fazer desde a primeira vez em
que o vira. Os cabelos dele se enrolaram nos dedos dela, finos e sedosos. O coração dele
batia forte, e ela ouviu um ruído nos ouvidos, como asas batendo...
Jace afastou-se com uma exclamação espantada, embora continuasse com os braços em
volta dela.
— Não entre em pânico, mas temos plateia.
Clary virou a cabeça. Empoleirado no galho de árvore mais próximo estava Hugo,
observando-os com olhos negros e brilhantes. Então o barulho que ela tinha ouvido realmente
fora de asas batendo, e não fruto de sua imaginação. Isso foi decepcionante.
— Se ele está aqui, Hodge não está longe — murmurou Jace. — É melhor irmos.
— Ele está te vigiando? — sibilou Clary. — Hodge, quero dizer.
— Não. Ele só gosta de vir aqui em cima para refletir. É uma pena, nós estávamos tendo
uma conversa tão boa. — Ele riu consigo mesmo.
Eles desceram por onde haviam subido, mas para Clary a travessia parecia inteiramente
diferente. Jace continuou segurando a mão dela, enviando pequenas correntes elétricas pelas
veias e por todos os lugares onde a tocava: os dedos, o pulso, a palma da mão. Sua mente
estava explodindo com perguntas, mas ela estava com medo de quebrar o clima fazendo
alguma delas. Ele disse que fora uma pena, então ela concluiu que a noite havia acabado, pelo menos a parte do beijo.
 Quase no último degrau da escada, Clary se lembrou de Simon.
Como farei para que Simon não me veja com Jace? Pense Clary!
Então teve uma ideia.
- Jace?- disse cortando o silêncio.
-Sim?
-Vamos para onde agora?
- Vou levar você até seu quarto.
-Não podemos ir à sala de música? – ela respondeu, já que a sala de música ficava perto do quarto dele.
Jace a olhou com um olhar curioso.
- Não sabia que você gostava de musica clássica- essa foi sua resposta.
- Tem muitas coisas que você ainda não sabe sobre mim.
Jace sorriu.
 -Tudo bem, se é o que você quer.
-Quero ouvir você tocar piano outra vez.
Os olhos de Jace brilharam quando ele olhou pra ela.
- Você sabe tocar algum instrumento? – perguntou curioso.
-Não, sempre gostei de ouvir música, mas meu lado artístico é o desenho.
-Ainda estou surpreso por não encontrar nenhum desenho meu em seu caderno- retrucou.
Clary refletiu se deveria contar ou não sobre seu último desenho. Por que não? Estavam se dando tão bem.
-Porque você não viu meu último desenho- falou por fim.
Jace se virou surpreso.
-Isso é sério?- perguntou realmente curioso.
-Sim, por que eu mentiria sobre isso?
Ele apertou a mão de Clary com mais força.
-Chegamos- disse, parando na frente da porta.
-Isabelle e Alec vêm aqui?-perguntou Clary.
-Só se for para me procurar, os dois não sabem tocar nenhum instrumento, então não teriam motivo para vir aqui.
-E hodge?
-Não sei se ele toca algum instrumento, se ele vem eu não vejo, acho que ele prefere ficar na biblioteca e na estufa.
Jace se sentou no banco do piano e Clary se sentou ao seu lado recostando sua cabeça no ombro dele. Ela sentiu-o tenso no início e depois recostando sua cabeça sobre a dela.
- Então, o que você quer ouvir?
-Mozart.
-Boa escolha, algo específico?
-O que você achar melhor.
Ele tirou sua cabeça de cima da dela e começou a tocar.
Clary admirava as mãos de Jace no piano. A sutileza com que ele tocava o piano, como se fosse um artefato raro que estava com medo de quebrar e ao mesmo tempo se formavam doces e suaves notas. Percebia-se de longe que ele sabia o que estava fazendo. Ela então deixou que a música a levasse, fechou os olhos e começou a pensar no que sentia por Jace, em como ela comparou-o com um leão no Pandemonium, em como ele a colocou para dormir, em como ele a segurou quando eles entraram no Dumort e em como ele a olhou no dia da festa de Magnus.
-Gostou da música?- a voz de Jace a retirou de seus pensamentos.
-Adorei, a sutileza dela é impressionante- respondeu.
Ele reclinou novamente a cabeça sobre a dela.
-Se você fosse um mundano poderia trabalhar como um pianista- concluiu.
-Não iria querer trabalhar com isso, mesmo que goste de tocar piano, se fizesse isso como profissão me deixaria entediado e começaria a detestar. E você com que trabalharia?
- Acho que como professora de desenho-respondeu.
- Você tem talento.
No rosto de Jace se formou um sorriso malicioso.
-Quero ver se você conseguiu desenhar meus músculos definido.
- Você tem músculos definidos?
-Você não viu? O resto das meninas consegue ver de longe.
Ela virou sua cabeça pra cima para responder. E antes que ela conseguisse ele estava beijando-a. Dessa vez um beijo calmo, com mais ternura, que fez o corpo de Clary amolecer. Jace a envolveu em seus braços e ela interlaçou suas mãos atrás do seu pescoço. Ficaram se beijando por alguns minutos, um explorando a boca do outro misturando intensidades e emoções.
Quando o beijo acabou, Jace ficou alisando o rosto de Clary com as costas da mão esquerda.
-Você quer continuar aqui?- perguntou Jace
Clary não sabia ao certo, então decidiu responder com outra pergunta.
-Isabelle e Alec podem entrar aqui procurando por você?
-Sim- soltou um suspiro- vamos- falou levantando-se- vou levar você para seu quarto.
Jace pegou a mão dela.
- Seu quarto é mais perto, podemos ir pra lá?- disse, em parte por causa de Simon e em parte porque queria ficar um pouco mais perto de Jace.
Jace a olhou com olhar malicioso e Clary arregalou os olhos.
- Você malicia tudo-disse Clary.
- Você está enganada, apenas 90% do meu cérebro é pervertido.
-Então, vamos para seu quarto?
Ele não disse nada, apenas sorriu e começou a andar, parou na frente da porta de seu quarto, encostou-se nela e puxou Clary para perto de si.
— Você vai dormir?- perguntou Clary
— Nunca estive tão acordado.
Ele se inclinou para beijá-la, dessa vez foi um beijo intenso. No meio do beijo Church passou pelo corredor e derrubou algo. O barulho assustou Clary e fez com que ela fosse pra trás abruptamente com os olhos arregalados. Isso fez Jace rir. Mas não foi uma risada de deboche e sim uma risada carinhosa. Clary começou a rir junto e ele a puxou para perto, a abraçou e beijou sua cabeça.
-Quer entrar?- Perguntou Jace por fim.
-Considerando que Simon está no meu quarto ocupando toda a cama, sim.
-Se quiser pode dormir comigo esta noite- propôs Jace.
No mesmo instante em que viu os olhos de Clary arregalados se corrigiu.
- E você ainda diz que sou eu que malicio tudo. Eu quis dizer apenas dormir, já que Simon está na sua cama e... eu não iria obrigar você a fazer nada que não queira.
-Tudo bem. Durmo com você essa noite.
Os olhos de Jace brilharam e um sorriso apareceu em seu rosto, ele abriu a porta.
-vamos.

Entrando no quarto, Clary se surpreendeu com a arrumação, era como o quarto de um conde.
-Vou trocar de roupa- disse Jace e deu um selinho em Clary antes de largar sua mão e dirigir-se ao banheiro.
Nisso, Clary se sentou na cama e ficou esperando por ele, havia dias que ela não se sentia tão feliz. Quando Jace saiu do banheiro, ele se sentou ao lado dela. Ela encostou sua cabeça no ombro dele, só que dessa vez ele fez metade de uma careta de dor.
Na mesma hora Clary levantou a cabeça.
- Você está com dor?- perguntou.
- Não, porque você achou isso?- respondeu.
-Você fez uma careta quando encostei a cabeça no seu ombro, esse foi o ombro com que arrombou a porta no Dumort?
- Foi, mas não está doendo, Hodge cuidou de mim e de Simon.
Ele não conseguia olhar nos olhos dela.
- Você está mentindo- concluiu Clary.
-Não estou não.
 - Então você não se importaria se eu socasse seu braço, se importaria?- perguntou com sua mão levantada pronta para dar um soco nele.
- Clary, você não seria louca...
Ele nem completou sua frase, Clary já havia dado um soco em seu braço.
-AHHHHHH!!!!!!!- gritou Jace. Clary se assustou com o grito.
-Meu Deus! Você está louco de dor, por que você não falou nada?
-Sou um caçador de sombras, sou acostumado com a dor.
-Ninguém é acostumado com dor.
Clary se levantou e começou a andar pelo quarto.
-Você quer algum remédio pra dor?-perguntou Clary preocupada.
- Nenhum remédio mundano vai funcionar melhor que uma iratze.
Clary foi até a cabeceira da cama e ajeitou os travesseiros.
-Recoste-se-ordenou Clary.
Jace se recostou.
-Pra que isso- perguntou?
-Vi isso em um filme, deve funcionar.
Jace começou a rir enquanto Clary ia até o banheiro e pegava uma pomada no kit de primeiros socorros.
-Tire a camiseta-ordenou a Jace.
Ele a olhou com uma expressão maliciosa, mas fez o que ela mandou.
Enquanto Jace passava a camiseta pela cabeça, Clary arregalou os olhos, ela nunca tinha visto um abdomen tão definido assim a não ser nos filmes.
Quando Jace olhou pra ela, desviou o olhar focando dessa vez no rosto dele.
-Agora se vire de costas.
Novamente ele obedeceu.
-Não sabia que você sabia fazer massagem-falou Jace.
-Não sei, mas parece ser fácil, além disso, pra tudo tem uma primeira vez.
-Sabia que não deveria ter deixado você fazer isso.
-Você não tem escolha.
-Droga!-disse Jace brincando.
-Então- disse Clary enquanto fazia massagem nas costas de Jace- você acha que Hodge, Alec e Isabelle ficaram de mal com você por muito tempo?
-Não sei, espero que não, ai. - disse suspirando.
-Desculpe.
-Tudo bem, só vá com menos força.
-Ok.
- O quê você acha que o clã de lobisomens queria com você?
- Não sei, andei pensando nisso também. - Clary refletiu por um bom tempo sobre como sua vida mudou drasticamente em poucos dias. 
- Aí, Clary sua massagem não está ajudando! - isso tirou a menina de seus pensamentos.
-Desculpa! Eu não levo jeito pra isso, droga!
Jace começou a rir e se sentou na cama, ficando cara a cara com Clary.
-Então me cure com seus beijos.
Clary encostou seus lábios nos dele e eles começaram a se beijar. Ficaram se beijando por muito tempo, talvez por horas, mas não importava o que importava era que os dois estavam juntos.
-Melhorou?-disse Clary no final do beijo.
-Muito- disse Jace ofegante.
-Jace?
-Sim?
-Vamos dormir?-disse, ela estava realmente cansada e precisava voltar cedo para seu quarto antes de Simon acordar.
-Estou tão acordado que possivelmente não vou dormir, mas se é o que você quer.
Eles se deitaram, um em cada lado da pequena cama.
-Boa noite Clary-sussurrou Jace.
Com o tempo os sorrisos foram deixando o rosto, os corações batendo mais devagar, as respirações suavizando e então dormiram.

 ******

Na manhã seguinte, Clary acordou com alguém se mexendo a seu lado.
-Desculpe, não queria te acordar-lamentou.
Ela sorriu.                                   
-Que horas são?
-Seis horas.
-Preciso voltar para o meu quarto antes de Simon acordar.
Clary começou a se levantar.
-Espera!-disse Jace - ele não deve acordar tão cedo, por favor, fica mais um pouco!
Os olhos de Jace suplicavam isso, Clary não teve como negar.
-Tudo bem, mas só 10 minutos!-disse e Jace sorriu para ela puxando-a para perto de si, nesse movimento ele encostou em uma parte sensível de seu pescoço, fazendo Clary gargalhar.
-Você sente cócegas?
-Sim, agora pare!-nisso Jace subiu encima dela com um sorriso brincalhão no rosto e começou a fazer mais cócegas nela.
-Para! Vou fazer cócegas em você também!-disse entre risos.
-Será difícil, porque eu não sinto cócegas!
Nisso Clary pegou um travesseiro embaixo de sua cabeça e bateu nele. Ele foi para trás em busca de outro travesseiro, nisso Clary saiu de baixo dele e foi para o outro lado do quarto.
-Você pode não sentir cócegas e ganhar em uma luta contra demônios, agora quero ver se ganha de uma guerra de travesseiros contra mim-disse desafiando-o.
-Pode vir-disse com um sorriso e abrindo os braços.
Nisso Clary correu e acertou o travesseiro nele. Ele rindo revidou. E assim foram por longos minutos, Clary correndo no quarto, pulando pela cama e Jace a seguindo, até que em um momento de distração ele conseguiu prende-la contra a parede.
-Venci-disse triunfante.
-Sorte de principiante-rebateu Clary-Além do mais, você me pegou enquanto estava distraída.
-Meus encantos fizeram mais uma vítima, que triste.
-Convencido.
-Sou a única coisa pelo que você se distrairia, não tenho culpa se meus músculos definidos são como um imã para as mulheres-disse com uma cara maliciosa.
-Se não quiser mais isso pode tentar uma dieta rica em gorduras, com uma barriga você se livra desse problema.
-E você?-disse Jace realmente curioso- Esta comigo por causa da minha barriga definida?
-Se fosse por isso existem outras pessoas você não acha?-disse e com isso os olhos de Jace brilharam e ele a beijou.
No final do beijo ela foi para o banheiro se arrumar.
Depois de se arrumar Jace foi ao seu encontro.
-Você quer que eu te leve até seu quarto?
-Seria ótimo-disse sorrindo.
Os dois saíram de mãos dadas do quarto.
***************
Quando Simon acordou, Clary não estava lá, ele sentiu algo embaixo do travesseiro que o estava incomodando, era o caderno de desenhos da Clary, ele foleou as páginas em busca de algum bilhete da amiga para informa-lo onde tinha ido, mas não achou, em vez disso encontrou um desenho de Jace, de asas e sem camisa, caras assim eram o tipo de qualquer garota. Então preocupado com a amiga, foi atrás dela. Ele não sabia onde procurar. Perdeu-se no meio de todos os corredores, acho que passou duas vezes na frente da cozinha, passou pela sala de música e quando estava prestes a desistir, ouviu um barulho na porta de um quarto e sem saber o motivo, se escondeu na dobra do corredor. Saíram duas pessoas de mãos dadas do quarto, uma delas tinha cabelos ruivos, Clary.
**************
Após Jace fechar a porta do quarto, Clary começou a andar, mas Jace a segurou.
-Espere-disse segurou-a pelas duas mãos.
-Mas preciso ir, Simon vai acordar!-disse preocupada.
-Só quero falar um momento com você.
Clary assentiu.
-Bem...-começou Jace- primeiramente obrigado, está noite foi especial pra mim.
-Pra mim também-revelou Clary.
-Nunca me senti assim –continuou Jace- E... acho que....
Se Simon descobrir vai ter um chilique e querer voltar a ser um rato para poder te morder.
Pensou Clary com medo de que Simon tivesse acordado, e seu medo se concretizou, porque antes de Jace acabar de falar, Simon saiu de seu esconderijo com o caderno de Clary na mão e uma expressão enfurecida no rosto.
-VOCÊ PASSOU A NOITE COM UM CARA QUE VOCÊ NEM CONHECE DIREITO!!! VOCÊ ESTÁ MALUCA?! PERDEU A CABEÇA?! EXPLIQUE-SE FRAY!!!
-Eu..., não é isso que você está pensando Simon, nós...-Clary perdeu a voz.
Foi a vez de Jace falar.
-Você ouviu a nossa conversa? Mundano idiota, quem acha que é pra ficar passeando pelo instituto?
Simon nem prestou atenção no que Jace disse e atirou o caderno de desenhos de Clary aberto na pagina em que ela o desenhou em direção a ele.
-Vejo que as aulas estão surgindo efeito Fray-disse Simon.
Simon se virou em direção a Jace.
-Ela está mesmo atraída por você-disse num tom amargo.
-Ficou melhor do que você disse- disse Jace olhando em direção a Clary.
-Você contou a ele sobre o desenho que você fez?
A voz de Clary voltou.
-O desenho era dele, não vi motivo pra não contar.
-Quem sabe ele ser um assassino louco e uma pessoa que você nem conhece!-respondeu Simon irritado.
-Caçador de sombras-respondeu Clary- e eu também sou uma se esqueceu? Simon eu não quero brigar, sei que tudo o que aconteceu no Dumort te deixou cansado, você entendeu tudo errado e sei que não gosta muito de Jace, mas não tem motivo para você descontar na gente.
Naquele momento, a raiva de Simon se transformou em coragem, estava prestes a se declarar na frente de um estranho.
-O motivo de te amar em silêncio durante anos e de que da noite para o dia um caçadorzinho de sombras aparece na sua vida e você prefere ficar com ele do que comigo não é o bastante?
Clary ficou em choque.
-Simon eu...-ela começou a ir atrás dele.
Mas o que ela ia dizer? Clary não amava Simon, ou amava?
-Não Clarissa-disse firme- não quero sua pena, não venha atrás de mim-disse e começou a andar pelo corredor.
           O sorriso de Jace parecia tão comum quanto torrada com manteiga.
— Vá em frente, vá atrás dele. Passe a mão na cabeça dele e diga que ele continua sendo seu carinha mais do que especial. Não é isso que você quer fazer?
Clary mal ouviu o que Jace falou, já havia começado a correr, Jace começava a se virar quando Clary tropeçou no próprio pé e caiu.
-AHHHH!!!! Droga!- disse Clary socando o chão e começando a chorar.
Jace foi correndo na direção dela.
-Clary, você está bem? O que aconteceu?-disse Jace preocupado.
-Eu estraguei tudo!-disse entre as lágrimas- perdi minha mãe, Luke e agora meu melhor amigo!
-Você não perdeu sua mãe, ela foi tirada de você, mas fisicamente, você está bem?
-Não, acho que torci o tornozelo.
-Segure-se no meu pescoço-disse Jace levantando-a e ela obedeceu, ela abraçou-o com força, como se tivesse a intensão de nunca mais larga-lo.
-Vou te levar para o meu quarto-continuou- vou cuidar de você, retribuir a massagem da noite passada.
Isso fez Clary rir e com isso Jace sorriu.
-Você quer se vingar? Porque sabemos que minha massagem piorou mais a situação. Você pretende quebrar minha perna?-disse brincando.
-Não sou uma pessoa vingativa.
Ele abriu a porta, entrou no quarto e colocou-a na cama.
-Vou pegar uma estela-disse abrindo uma gaveta.
-Então quer dizer que não vai me deixar cheia de roxos?
Jace sorriu maliciosamente.
-Depende de que tipo de roxo você está falando.
Clary arregalou os olhos e riu.
-Sabe, eu não deveria estar aqui rindo, a culpa disso tudo é minha, não deveria ter dormido aqui.
-Clary, a culpa não é sua-com isso ela olhou pra ele, ele a olhava nos olhos-você não tem culpa de não gostar de Simon.
-Como fui tão burra e não reparei-disse Clary colocando a mão nos olhos- até você no Java Jones já sabia.
Estava rindo porque declarações de amor me entretêm, ainda mais quando não são reciprocas.
-Não se culpe Clary- disse Jace sentando na cama perto dos pés dela com a estela-isso só piora as coisas.
Jace fez a iratze no tornozelo de Clary e deitou-se do lado dela.
-Eu estou aqui com você, você precisa descansar.
- Não vou conseguir dormir.
-Então, o que quer fazer?-disse Jace alisando os cachos ruivos de Clary.
-Você pode pegar meu caderno de desenhos e meus lápis? Quero arejar minha mente.
-Claro, o caderno está aqui- disse entregando-o a Clary - a propósito, fiquei impressionado com o desenho, você é muito talentosa.
-Obrigada.
-E os lápis eu vou pegar, já volto- disse levantando-se da cama e saindo do quarto.
Em menos de um minuto Jace tinha voltado com os lápis.
-Nossa!-disse Clary impressionada com a rapidez- não sabia que você corria tão rápido!
-Não quero te deixar sozinha assim.
-E eu não quero que você me deixe.
Jace não esperava essa resposta, ele largou a caixa de lápis encima da cama, se deitou ao lado dela e começou a beijar Clary, um beijo apaixonado, como um consolo.
Quando o beijo acabou, Jace sorriu maliciosamente.
-Bem se for para te alegrar, eu aceito ser seu modelo nu para o desenho, o que você acha?
-Acho que preciso desenhar coisas mais simples, demorei horas fazendo seu último desenho, é difícil desenhar músculos sabia?
Isso fez Jace rir.
-Que pena, mas fazer o quê?
-Vai desenhar o quê?- continuou.
-Acho que essa xicara está bom.
Clary começou a desenhar, mesmo com Jace ao seu lado, se sentia mal por ter brigado com Simon, estava se sentindo culpada, magoada. Quando acabou o desenho, sua vista se escureceu e um símbolo veio a sua mente, e ela o desenhou sem perceber.
Quando acabou o desenho, ela passou a mão por cima dele e sentiu a xícara, ela deu um pulo e só então percebeu o símbolo brilhando. Jace, que até então permanecia quieto alisando o cabelo dela, se manifestou.
-O que ouve?
-Jace-disse Clary um pouco surpresa- Passe a mão no desenho.
Ele passou a mão e deu um pulo assim como Clary.
-Você também sentiu?- perguntou Clary.
-Sim, você fez isso? Mas como é possível?
-Não sei, acho que é esse símbolo-apontou para o desenho. Você já viu antes?
-Não, nunca, você conhece?
- Não... –uma lembrança passou pela mente de Clary.
-Jace!-disse levantando da cama aos pulos.
-O quê foi?-respondeu também se levantando.
-Eu sei onde o cálice mortal está.
-Onde?
-Em uma pintura.
-Atrás de uma pintura? Ohhh-disse olhando para o rosto dela- Você quer dizer dentro de uma pintura. Mas onde? Pode estar em qualquer lugar-disse se jogando sentado na cama.
-Mas eu sei onde está.
-Na sua casa? Mas tiraram todos os quadros da sua casa. Num museu? Mas em qual? Num...
-Jace, não está em um quadro e sim em uma carta.
-Uma carta?
-Sim, se lembra quando fomos a cidade do silêncio?-Jace assentiu- Quando eu vi a estátua do anjo com o cálice me pareceu familiar, mas eu não sabia o motivo e agora entendi, me pareceu familiar porque era o mesmo que estava pintado no Ás de copas, a carta de taro que peguei quando fomos a casa da madame Dorotheia.
— E ninguém nunca ensinou você como fazer isso? Sua mãe, por exemplo? — Não. Já disse, minha mãe sempre disse que mágica não existia... — Aposto que ela ensinou — ele a interrompeu — e fez com que você esquecesse em seguida. Magnus disse que suas lembranças voltariam lentamente. — Talvez. — Claro que sim. — Jace se levantou e começou a andar de um lado para o outro. — Provavelmente é contra a Lei utilizar símbolos desse tipo, a não ser que seja licenciado para tal. Você acha que a sua mãe escondeu o Cálice em um quadro? Do mesmo jeito que você acabou de fazer com essa xícara? Clary fez que sim com a cabeça. — Mas não em um dos quadros que estavam lá em casa. — Onde mais? Numa galeria? Pode estar em qualquer lugar... — Não em um quadro — disse Clary. — Em uma carta. Jace fez uma pausa, virando em direção a ela. — Uma carta? — Lembra daquele baralho de tarô da Madame Dorothea? O que a minha mãe pintou para ela? Ele fez que sim com a cabeça. — E lembra quando peguei o Ás de Copas? Mais tarde, quando vi a estátua do Anjo, o Cálice me pareceu familiar. Era porque já tinha visto antes, no Ás. Minha mãe pintou o Cálice Mortal no baralho de tarô da Madame Dorothea. Jace estava um passo atrás dela. — Porque ela sabia que estaria seguro com um Controle, e foi o jeito que ela encontrou de entregá-lo a Dorothea sem ter de dizer o que era ou a razão pela qual precisava mantê-lo escondido. — Ou mesmo que precisava mantê-lo escondido. Dorothea nunca sai, ela nunca daria a ninguém... — E sua mãe estava convenientemente perto para vigiá-la e também o Cálice. — Jace parecia quase impressionado. — Nada mal. — Pois é. — Clary teve de se esforçar para conter o tremor na própria voz. — Quem dera ela não tivesse escondido tão bem. — Como assim? — Quer dizer, se eles tivessem encontrado o Cálice, talvez tivessem deixado minha mãe em paz. Se só o que queriam era o Cálice... — Eles teriam matado a sua mãe, Clary — disse Jace. Ela sabia que ele estava falando a verdade. — São os mesmos homens que mataram meu pai. A única razão pela qual ela talvez esteja viva é o fato de eles não terem encontrado o Cálice. Agradeça por ela tê-lo escondido tão bem